Após participar de um curso de formação continuada, a
professora Nângella Simões viu a sala de recursos multifuncionais da Escola
Municipal Hugo Duarte Coutinho, em Ipatinga (MG), se transformar em um
verdadeiro laboratório de inovação. Para garantir a inclusão efetiva dos alunos
com deficiência, o local do Atendimento Educacional Especializado passou a
servir de apoio na criação de recursos que facilitam a aprendizagem de toda a
turma.
Como
responsável por esse espaço, ela estava acostumada a trabalhar sozinha para
produzir materiais e desenvolver atividades direcionadas apenas aos alunos com
deficiência. “Era só eu e o aluno. Não tinha muita interação e troca de idéias
com a professora regente”, recorda Nângella. De uns tempos para cá, no entanto,
a concepção de desenho universal para a aprendizagem passou a fazer parte da
sua rotina, incentivando a busca por múltiplas estratégias e recursos que são
acessíveis para todos os alunos. “Hoje os jogos são tirados da sala de recursos
e vão para a sala de aula”, conta.
De
uma seqüência didática diferenciada a um jogo ou material de apoio, as
estratégias começaram a ser pensadas de forma colaborativa para ampliar a
aprendizagem de alunos com e sem deficiência. “Nós abrimos as portas do
Atendimento Educacional Especializado para a escola”, orgulha-se a educadora. A
exemplo disso, no último ano, em parceria com a sua coordenadora pedagógica e
uma professora do primeiro ano do ensino fundamental, Nângella desenvolveu um
projeto sobre diversidade. Com seqüências didáticas baseadas no livro “Da cor
da Noite”, de Gleidiane Miranda, as educadoras colocaram a mão na massa para
confeccionar recursos que facilitaram a compreensão da história por todos os
alunos.
A
cerca de 5 km dali, em outra unidade da rede municipal, a professora Maria
Aline Silva Mendes também se envolveu nessa proposta de trabalho colaborativo.
Em parceria com a coordenadora pedagógica e com a profissional responsável pelo
Atendimento Educacional Especializado da Escola Municipal Levindo Mariano, ela
desenvolveu um projeto de conscientização dos alunos sobre a importância de uma
alimentação saudável. No decorrer da atividade, foram produzidos materiais
didáticos e pedagógicos acessíveis para facilitar a compreensão da leitura e da
escrita, considerando as necessidades específicas de cada aluno.
Antes
de trabalhar em conjunto para confeccionar recursos, as trocas entre a
professora regente do primeiro ano do ensino fundamental e a professora do
Atendimento Educacional Especializado eram restritas a momentos específicos da
rotina escolar. “Nós comentávamos sobre um aluno ou outro e falávamos das suas
dificuldades no momento do recreio, mas era uma coisa informal”, avalia. Com o
contato mais próximo, elas passaram a pensar juntas em estratégias para
promover a inclusão na escola. “A sala de recursos passou a ser utilizada com
mais freqüência dentro da escola, ficou um espaço aberto que possibilita maior
interação”, aponta ela, que hoje trabalha na Escola Municipal Padre Bertollo,
na mesma cidade.
Mão na massa para promover à inclusão·A proposta de transformar as salas
de recursos multifuncionais de escolas municipais de Ipatinga teve início no
final de 2015, depois que educadores da rede começaram a participar de
formações realizadas pelo Centro de Referências em Educação Integral, em
parceria com o MAIS (Movimento de Ação e Inovação Social). Com o objetivo de
promover a inclusão efetiva dos estudantes com deficiência, as escolas foram
estimuladas a rever suas práticas e implementar Laboratórios de Inovação e
Criatividade para produzir recursos que favorecem a aprendizagem de todos.
“Foram
abertos novos horizontes diante das concepções que as pessoas tinham de
educação inclusiva”, avalia Izilda Rodrigues Viana, que durante a última gestão
foi coordenadora da educação especial da rede municipal. Ela conta que, para
tirar esse projeto do papel, as palavras de ordem foram trabalho colaborativo e
desenho universal da aprendizagem. Tudo deveria ser pensando de forma coletiva
para oferecer estratégias pedagógicas diversificadas, que respeitam os ritmos e
preferências de cada estudante.
Com
carga horária total de 80 horas, divididas entre atividades presenciais e a
distância, a formação envolveu professores regentes, coordenadores pedagógicos
e professores das salas de Atendimento Educacional Especializado. Cada uma das
34 escolas municipais, de educação infantil e ensino fundamental, que
participaram dos encontros deveria contar com a presença desses três
profissionais. A idéia era estimular que eles aprendessem a planejar e a
trabalhar em equipe para promover a inclusão. “Enquanto o professor regente
percebeu que ele também era responsável pelo educando com deficiência, o
professor do Atendimento Educacional Especializado viu que o trabalho dele vai
além de atender esse aluno na sala de recursos. Isso é trabalho colaborativo”,
destaca Izilda.
Alinhada
com pesquisas educacionais recentes, que demonstram os benefícios da inclusão
para toda a escola e apontam práticas de trabalho colaborativo como às
estratégias mais exitosas para promover a aprendizagem de crianças com
deficiência, a formação contou com momentos de discussão conceitual, reflexão e
atividades práticas. “Nós começamos um projeto de pesquisa em que os
professores tinham que escolher uma situação chave e propor uma prática. Se um
aluno com autismo não quisesse entrar na sala de aula, a tarefa desses
professores seria pensar em estratégias e recursos para que esse menino
participasse das atividades junto com todos”, explica Talita Matos, uma das
formadoras do curso Laboratórios de Inovação e Criatividade.
Após
avaliar a inclusão nas suas próprias instituições, os educadores foram
convidados a colocar a mão na massa e utilizar a sala de recursos
multifuncionais como um laboratório para produzir materiais, jogos e
simuladores. “Nós introduzimos noções básicas de eletrônica para que eles pudessem
se sentir mais à vontade para fazer essas coisas. Tentamos fazer as pessoas
perderem o medo de fazer”, diz Mariana Salles, designer de produtos e sócia do
Our Home MakerSpace, que acompanhou o momento de prática da formação.
A cultura
maker tem um certo Q de inclusão (…). Isso também passa pela idéia de que
podemos pensar em objetos para todos os alunos participarem de uma atividade.
Ao trazer elementos da cultura maker para a formação, os professores
foram envolvidos em processos colaborativos e experimentaram a construção dos
seus próprios recursos didáticos. A experiência vivenciada no município de
Ipatinga demonstra como a tendência da educação mão na massa pode estar
conectada diretamente com os princípios da inclusão. “A cultura maker tem um certo
Q de inclusão, no sentido de que você não precisa ser um engenheiro para fazer
uma luz acender ou consertar alguma coisa. Isso também passa pela idéia de que
podemos pensar em objetos para todos os alunos participarem de uma atividade”,
relaciona Mariana.
De acordo com a designer e sócia do
makerspace carioca, quando os educadores perdem o medo de colocar a mão na
massa, eles percebem que podem buscar conhecimentos, compartilhar idéias e
pensar em diferentes estratégias para envolver todos os alunos, seja qual for a
sua deficiência.
Um exemplo de projeto que foi construído por educadores da
rede municipal foi à máquina de somar que auxilia os estudantes no
desenvolvimento do raciocínio lógico matemático.
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